Portimonense sem Portimonenses

O ano era 2012 e o Portimonense, depois de ficar na última posição no campeonato da segunda liga na época anterior, e ter sido salvo pelo processo de insolvência do União de Leiria e pela desistência do Varzim em subir aos campeonatos profissionais, percebeu que uma mudança de paradigma no que toca à utilização de jogadores da sua formação poderia ser benéfica para si.
Se na época anterior possuía 5 jogadores formados em Portimão no plantel da equipa principal, no ano a seguir esse número duplicou para os 10 jogadores, com alguns a vir directamente da formação e outros de equipas na região do Algarve mas com formação em Portimão. Coincidência ou não, a verdade é que nessa época o Portimonense obteve uma sólida 6ª posição final no campeonato, muito longe do pesadelo da época anterior. Na época seguinte eram 7 jogadores da formação e mais uma vez o Portimonense obteve uma boa classificação final, terminando na 7ª posição. Ressalve-se também que a maioria destes jogadores têm feito carreiras bem conseguidas fora do Portimonense, revelando assim que a aposta que neles foi feita acabou por ser uma opção positiva.
Avançamos agora para a época que findou. Num universo de cerca de 50 de jogadores pertencentes ao plantel principal e aos sub-23, e como tal, dentro da alçada da SAD, constatamos que apenas dois jogadores formados no Portimonense possuíam contrato profissional (Bruno Reis e Sérgio Neto). E nenhum destes foi sequer convocado para qualquer jogo na primeira liga durante a época, o que mostra que podem não vir a ser apostas de futuro da SAD.
Recuando mais um pouco até às épocas de 2014/2015, na qual se obteve uma meritória subida à primeira divisão nacional de juniores, e de 2015/2016, em que disputámos essa mesma competição, onde infelizmente não evitámos a descida de divisão, constatamos que nenhum jogador dessa equipa possui na actualidade contrato profissional com a SAD.
Uma das grandes consequências deste desaproveitamento dos jogadores da formação é a perda de identidade e de ligação dos adeptos com a equipa que os representa em campo. É claro que não é necessário ter nascido em Portimão e ter feito toda a sua formação no clube para o sentir como um verdadeiro Portimonense (Ricardo Pessoa é o maior exemplo desta afirmação), sendo que o plantel principal possui alguns jogadores com muitos anos de casa e que se nota que sentem o clube. Mas o que passará pela cabeça de um jovem que cumpre todas as etapas da formação no clube que ama e que sabe que muito possivelmente terás as portas das equipas profissionais fechadas para si, por motivos que não raras vezes poderão não ser apenas o do mérito desportivo? A bem das actuais gerações de jogadores formados no Portimonense e das que se seguirão posteriormente, era bom que o paradigma se alterasse outra vez.