O que o tempo apagou e não volta
O Portimonense é um clube centenário e com uma longa história. Se atualmente existem 1000 atletas, é inimaginável a quantidade de jogadores que já terão representado o Alvinegro em 106 anos de existência.
Como participante mais jovem do Blog do Portimonense, é de esperar que o Portimonense não tenha entrado na minha vida há muito tempo, comparativamente com os meus companheiros. Não vivi os tempos do Cadorin, nem do Getov, nem tampouco era vivo quando o Portimonense militava na Segunda Divisão B. Isto fez-me querer saber mais sobre o nosso passado. Não vi Cadorin, mas sei quem é e tudo o que simbolizou para o histórico Portimonense. Não vi a dupla Jailson e Sapinho, mas por algum motivo estou a enumerá-los.
A questão é a existência de um vazio até meio dos anos 70.
Dos que estão a ler este artigo quem conhece Daniel Belchior, Arquimino Galhardo, José António e Alexandrino Sequeira? Com certeza, ou os mais informados, ou os que efetivamente viram este quarteto jogar saberão quem são estas figuras. Mas quantos jogos fizeram? Quantos golos marcaram?
Começando por Daniel. O guarda-redes é considerado, pelos que o viram jogar, o melhor guarda-redes da nossa história. Falamos de uma baliza que foi defendida por Damas, Mendes ou Vital. Daniel é, desde que há conhecimento, o jogador com mais épocas no Portimonense, 19(!). Falamos em alguém que pode ter entrado em campo mais vezes que Ricardo Pessoa. Mas e se antes de Daniel alguém jogou 20 ou 21 anos e nós não sabemos?
Jorge Pires é conhecido melhor marcador da história do Portimonense, com 63 tentos a golo. Mas se recuarmos até aos primórdios do futebol, onde o ofensivo era imagem de marca e os jogos acabavam como hoje acabam os de Hóquei em Patins, não haverá alguém com mais de 63 golos? Alexandrino Sequeira dedicou toda a sua vida ao Portimonense Sporting Clube. O avançado realizou 14 épocas como sénior, acrescentadas a duas na equipa B e toda uma formação em Portimão. Em 14 épocas, Alexandrino precisaria de apenas 4.5 golos por temporada para bater os 63 golos de Pires. Destacar que Alexandrino era a grande figura ofensiva do Portimonense na década de 60 e, tendo em conta todas as circunstâncias, não é surpreendente se disser que Alexandrino pode ter mais de uma centena de golos em Portimão.
E antes destes, que surgiram em meados dos anos 50, aconteceram 40 anos de história. E nesses 40 anos, talvez tenha havido alguém mais lendário que todos os jogadores que conhecemos. As provas de que poderemos ter tido mais um grande craque no nosso plantel chegam na década de 40, década onde o Portimonense fez boas temporadas no segundo escalão do futebol português. Sendo um dos maiores feitos a conquista da Série 16 da Segunda Divisão de forma dominante, aplicando pesadas goleadas jogo sim, jogo sim.
Foi a meio da década de 40 que regressou a Portimão, depois de 4 temporadas no poderoso Belenenses, Gilberto Vicente. Apenas são conhecidos os golos em Belém deste atleta, 63 golos em 54 jogos em 4 épocas. O jogador depois destas 4 temporadas, representou o Portimonense por 9. Se em 4 temporadas na Primeira Divisão, Gilberto marcou 63 golos, penso que será lógico que em 9 na Segunda Liga terá feito muitos mas muitos mais. Aplicando uma regra de 3 simples, o que com certeza dará números errados mas que trarão números mínimos, se em 4 temporadas jogou 54 jogos e marcou 63 golos, em 9 teria marcado 142 golos em 121 jogos. Recordar o que disse acima. Aquando da chegada de Gilberto, o Portimonense era ofensivamente uma equipa fortíssima e, aliado à diferença de dificuldade da Primeira para a Segunda Liga, podemos estar a falar em duas centenas de golos.
Mas desde a despedida de Gilberto vão 67 anos. Da despedida de Alexandrino vão 50. Cabe agora os nomes destas lendas passarem de geração em geração para que não sejam definitivamente perdidos no tempo.