Uma vitória que não mascara a má preparação da época

Ponto prévio nº1: Seria de uma extrema injustiça não reconhecer os méritos que a SAD do Portimonense, encabeçada pelo Sr. Theodoro Fonseca, tem vindo a desenvolver desde que tomou conta dos destinos do clube. Para constatar isso basta dar uma rápida olhadela às instalações desportivas de sonho que o Portimonense possui actualmente e compará-las com as que possuía anteriormente. Também se pode fazer o seguinte exercício hipotético: “onde estaria actualmente o Portimonense se não fosse a SAD”? Muito possivelmente não na primeira liga. É preciso dar mérito a quem o tem e a SAD merece o reconhecimento de todos os adeptos e sócios do Portimonense.
Ponto prévio nº2: Todas as críticas presentes neste artigo, assim como em qualquer outro do Blog, têm como objectivo apontar aspectos menos bons que podem eventualmente ser melhorados. Em última instância nós, sócios e adeptos do Portimonense, queremos o melhor para o nosso clube e as críticas feitas têm sempre esse intuito. Uma crítica honesta vale muito mais que um elogio falso.
Posto isto vamos então tentar analisar o porquê de o Portimonense estar até ao momento a realizar uma época fraca, não obstante a vitória que alcançou nesta jornada contra o Nacional da Madeira. Uma vitória inteiramente dedicada ao nosso eterno Mister Vítor Oliveira (e que arrepiante e bonito que foram as camisolas com o seu nome e o círculo feito pelos jogadores das duas equipas no final do jogo em sua homenagem!), e que esperemos que seja a primeira de muitas que se seguirão. Mas como nem tudo está mal quando se perde, também nem tudo está bem quando se ganha. Sendo assim, importa analisar a preparação e planeamento da SAD para a época em que nos encontramos.
Em Julho, estava ainda o Portimonense a lutar para fugir aos lugares de despromoção, escrevi um artigo em que, independentemente do Portimonense conseguir ou não evitar a despromoção, enumerava uma série de erros que teriam sido cometidos antes e ao longo de toda a época passada. Estes erros tiveram como consequência a descida do Portimonense à 2ª Liga, que não foi consumada graças ao conhecido caso do Vitória de Setúbal.
Seria de esperar que a oportunidade que o Portimonense teve de poder prosseguir a sua campanha desportiva na primeira liga fosse a altura ideal para a SAD fazer uma reflexão séria acerca do que correu mal e alterar o seu comportamento, certo? Pois, pelos vistos, não. Todos os erros cometidos na época passada, e que em boa verdade já se verificavam desde a meio da época anterior a essa, foram quase copiados a papel químico para a época actual. E que erros foram estes?
O primeiro de todos, e o mais clamoroso é a qualidade, ou falta dela, do plantel escolhido pela SAD para atacar esta época desportiva. Invariavelmente todos os mercados de transferências desde o mercado de Inverno de 2019, em que saíram de uma assentada Nakajima, Ewerton e Manafá, têm sido, salvo raras excepções, marcados pela mesma política: o recrutamento de jogadores oriundos do Brasil, a maioria de qualidade duvidosa, e ainda sem provas dadas. Estas contratações acabam por ser sempre um tiro no escuro, tendo como consequência o que se observa na equipa do Portimonense: os melhores jogadores são aqueles com mais anos de casa e não os que chegaram nos últimos mercados. Então nas opções que Paulo Sérgio dispõe para o meio-campo é incrível como estas são practicamente inexistentes (e a lesão grave de Lucas Fernandes ainda veio piorar mais as coisas). Não faz nenhum sentido que as saídas de Júnior Tavares e Bruno Costa não tenham sido devidamente colmatadas. No ataque também se nota, e muito, a saída de Tabata, sendo que os jogadores que chegaram (e isso notou-se bem no jogo desta jornada contra o Nacional) não têm a mesma capacidade de desequilibrar e serem decisivos como o actual jogador do Sporting. E os únicos dois jogadores com qualidade comprovada que chegaram neste mercado, Fabrício e Maurício, estão apenas emprestados por uma época.
Este tipo de política que a SAD tem practicado tem origem, na minha opinião, no segundo problema. Falta claramente um director desportivo no Portimonense que conheça bem o campeonato português. É certo que a SAD dispõe de muitos recursos humanos nos seus quadros, mas quantos deles conhecem verdadeiramente o nosso campeonato? É que, ao contrário de quem olhe para a constituição do plantel, o Portimonense joga na Liga NOS e não no Brasileirão. Independentemente da nacionalidade, são necessários jogadores que conheçam bem o campeonato e que rendam assim que cheguem, não necessitando por isso de tempo de adaptação.
Mais uma vez a política da SAD leva-nos a um terceiro problema. É gritante a descaracterização actual do plantel do Portimonense. É certo que existem jogadores já com alguns anos de casa, mas a maioria dos que chegam muito provavelmente nunca tinham ouvido falar do clube antes, não existindo uma ligação e identificação forte com a cidade e o clube. Jogadores como Dener, Ricardo Ferreira, Lucas Possignolo, Pedro Sá ou Fabrício podem ajudar a atenuar essa lacuna, mas fazem falta mais jogadores que sejam uma referência, que saibam o que é o Portimonense, que conheçam a sua história e importância. Basta relembrar que Ricardo Pessoa não nasceu ou foi formado em Portimão e é hoje um dos maiores símbolos da história do Portimonense. Este é um aspecto muito importante numa equipa, seja em que desporto for, porque uma equipa bem identificada com os valores do clube permite aquele extra de entrega e raça, muitas vezes decisivo para se chegar à vitória.
Para concluir esperemos que esta vitória seja o momento de mudança que se espera no Portimonense, em que para já teve como efeito benéfico a saída do último lugar do campeonato para o 15º lugar à condição. Mas também é necessário reflectir no seguinte: se temos dos melhores “iscos” da primeira liga (e por isco entenda-se óptimas condições de trabalho e dinheiro para investir), porque é que não conseguimos atrair os “peixes” certos, que nos permitam lutar por objectivos mais ambiciosos do que a luta pela manutenção? Fica a questão.