33 anos de eterna saudade… (Homenagem a 12 dos “nossos”)

À época a palavra “Internet” era desconhecida. Os telemóveis, praticamente inexistentes, não serviam como meio de comunicação para transmitir informações em tempo real numa sociedade onde as notícias circulavam mais devagar.
Nesse sábado, 8 de Abril, bem cedo, grupos de adeptos integraram-se em várias excursões que iriam acompanhar o Portimonense ao Porto onde, no dia seguinte, o nosso clube iria defrontar o Boavista em jogo a contar para 33ª Jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
Seria mais um fim-de-semana de convívio, igual a tantos outros, mas algo não correu como previsto. À saída do Algarve, entre Albufeira e S. Bartolomeu de Messines, um autocarro teve um acidente com graves consequências numa das antigas estradas que ligavam ao IP2, a velhinha estrada para Lisboa. Sim, o Algarve era uma zona quase remota de Portugal e ainda não era servido por autoestradas.
A informação chegou a Portimão nessa manhã, sem grandes pormenores por vivermos numa época de pré-globalização. Sem telemóveis, em cada canto da cidade a notícia circulava “boca a boca” e era confirmada horas mais tarde nos noticiários da RTP, único operador televisivo existente. O rádio servia como alternativa e ia acrescentando detalhes. Vários adeptos do nosso clube tinham perdido a vida, outros estavam feridos e, definitivamente, a cidade ficou diferente.
Nome após nome, familiares, amigos, ou simples conhecidos dos adeptos que viajaram, constataram que o Portimonense estava de luto. Poderíamos referir os nomes de todos os que tragicamente nos deixaram. Preferimos deixar as famílias anónimas, por respeito.
Nos dias seguintes a cidade parou para se despedir de 12 pessoas que sentiam a mesma paixão que nós: o Portimonense!
O comércio encerrou. A cidade recebeu as mais altas figuras desportivas e políticas da altura. Os adeptos do Portimonense compareceram em peso. Anónimos e amigos juntaram-se na mesma dor. Aí percebeu-se que não era só o Portimonense que estava de luto. O país, pequeno mas distante pelos precários meios de comunicação existentes, mostrou-se solidário.
Por curiosidade, o jogo do Bessa terminou com uma vitória do Boavista por 1-0 perante um Portimonense digno, que bem se esforçou para conseguir outro resultado, homenageando os seus adeptos. O Portimonense alinhou com Sérgio; José Carlos, Aurélio, Floris, Justiniano (Guetov, 75m); Augusto, Vado, Nivaldo, Skoda; José Pedro e César Brito. O treinador era José Torres.
É esta a explicação para o drástico decréscimo de excursões que se verificou desde então. Feridas difíceis de sarar que afectaram toda uma geração.
Ainda hoje, há várias famílias para quem o Portimonense só pode significar tristeza. A elas dirigimo-nos dizendo que, apesar de terem passado 33 anos, não esquecemos aqueles que, de uma forma precipitada, deixaram a nossa grande Família que veste de preto e branco. Compreendemo-vos e, de uma forma diferente, sentimos um pouco do que vocês sentem.
Gostaríamos de ter mais 12 pessoas a cantar connosco em cada vitória. Esperamos ser dignos do legado que nos deixaram.
Lamentamos serem obrigados a reviverem tudo isto. No entanto temos a certeza que, hoje, muitas pessoas querem agradecer-vos por serem Portimonenses como nós e isso tem que ser superior ao resto pois o caminho tem que ser em frente.