O que ganha o Portimonense com Welinton Júnior?

Independente da incerteza quanto sobre que campeonato o Portimonense disputará em 2020/21, algumas certezas já começam a aparecer. Entre elas, além da continuidade do treinador Paulo Sérgio, temos a contratação de Welinton Júnior, ex-Desportivo das Aves, dada como certa como a primeira da equipe principal em 2020/21. A questão que fica então é o quanto esse novo jogador pode agregar à equipe, o que ele traz de novo ao plantel, e é o que buscaremos analisar.
O panorama geral
Trazer um jogador da pior equipe do campeonato, por mais que seja um destaque, traz sempre alguma desconfiança, então vale começar por dar uma olhada por cima nos números do jogador. Apenas pela Liga NOS, Welinton Júnior somou 7 gols e 3 assistências pelo Aves. Se somarmos um pênalti sofrido por ele e convertido por um companheiro, são 11 participações diretas para um total de 24 gols marcados pelo Aves na Liga, cerca de 46% do total da equipe. Ressalta-se ainda que o jogador só esteve no plantel até a 24ª jornada, quando rescindiu seu contrato; na altura o Aves assinalava 23 gols na Liga, e em todo o período posterior só marcou mais um. Também, se somarmos os jogos da Taça de Portugal (derrota por 5-2 para o Farense, 2 gols de Welinton) e da Taça da Liga (derrota de 3-2 para o Gil, 1 gol de Welinton), chegamos num total de 14 participações diretas em 28 gols, exatamente 50% de participação. É inegável então o fato de que, apesar da desastrosa campanha do Desportivo das Aves em 2019/20, Welinton Júnior foi certamente uma nota mais do que positiva.
Características e comparação ao atual plantel
Uma das, senão a mais gritante, das características de Welinton Júnior é a velocidade. Jogador de muita mobilidade, não por acaso pode atuar em todas as faixas do ataque, em especial a esquerda e a central. Sua presença no 11 inicial acrescentaria, então, todo um novo leque de jogadas a serem exploradas por Paulo Sérgio; ao passo de que na atual temporada foi comum vermos situações em que Jackson, fisicamente limitado, era capaz de iniciar uma jogada, mas não chegar em tempo de finalizá-la e que Ricardo Vaz Tê, no alto de seus 33 anos, não é tampouco um jogador explosivo, o poder de infiltração de Welinton, em velocidade e entre as linhas de defesa adversárias, surge como um de seus principais trunfos, tendo esse tipo de jogada lhe rendido alguns de seus melhores momentos e gols na Liga. Essa qualidade se mostra presente nos números. De acordo com os dados do portal Whoscored.com, ainda que não seja um grande driblador, Welinton foi, entre os jogadores com um mínimo de 15 partidas disputadas, o 5° jogador que mais sofreu faltas por partida, com uma média de 2,8 idêntica, por exemplo, à de Bruno Tabata, que terminou a competição como um dos melhores dribladores da prova. Para fins de comparação, Jackson teve média de 1,8 faltas sofridas por jogo, e Vaz Tê, 0,3. Além disso, apesar de ter como forte a infiltração, possui uma média relativamente baixa de foras-de-jogo por partida; com média 0,5, aparece apenas por volta da 20° posição entre jogadores da Liga; média superior, por suposto, à ambos Jackson e Vaz Tê (ambos com 0,3), que não possuem a mesma característica.
Outra característica que não pode deixar de ser dita sobre o brasileiro é a sua capacidade, e especialmente, frequência, de finalizações. Na Primeira Liga em 2019/20, nenhum jogador finalizou mais do que Welinton Júnior. Sua média, de 3,3 finalizações por jogo, só é superada por Bruno Fernandes (3,5) e ultrapassa por muito a das atuais opções do plantel. Jackson finaliza, em média, 2,3 vezes por partida, ao passo que Vaz Tê o faz 1,3. No que refere a sua participação no ataque como um todo, realizou em 2019/20 cerca de 0,6 “passes-chave”, aqueles que criam boas oportunidades de gol, por partida, uma boa média para pontas-de-lança que é batida por Jackson (0,7) mas supera a de Vaz Tê (0,3).
No quesito finalizações, vale ainda um destaque para uma certa engenhosidade que apresenta o brasileiro, tendo feito alguns golaços e tirado gols de situações um tanto complicadas, inclusive, contra o Portimonense, para quem se lembra bem.
Por fim, seu melhor gol no campeonato, eleito o melhor gol da 8° jornada, contra a equipe do B SAD, exemplifica pra mim a suas melhores qualidades: infiltração em velocidade nas contas da defesa, engenhosidade para marcar frente ao goleiro:
Contraponto negativo
É claro, e nem passa perto de ser minha intenção contrariar isso, que não se trata de um jogador perfeito, e aqui vamos explorar um pouco suas fraquezas. Não sendo um “camisa 9” habitual, não dotando da mesma força física e tamanho de outros companheiros de posição, é evidente que fica atrás, por exemplo, nos duelos aéreos. Num quesito em que Jackson é um dos melhores do campeonato (3,5 duelos ganhos por jogo) e que Vaz Tê não fica muito atrás (2,6), Welinton passa longe de ser uma força, com média de 1,7 duelos ganhos, praticamente metade dos praticados pelo colombiano. Também não é um exímio passador, tendo apenas 56.5% de passes certos contra 70.2 de Jackson e 64.5 de Vaz Tê. Outro dado preocupante, ainda segundo o Whoscored, é sua média de domínios de bola ruins por jogo, o segundo maior da Liga, com 3,3 por jogo, ao passo que o pior do Portimonense no quesito, Bruno Tabata, leva 2,6. Um pouco tranquilizante, talvez, seja o fato de que seu companheiro de ataque no Aves, Mehrdad Mohammadi, seja o líder do quesito, com 3,4 recepções ruins por jogo; ora, é fato que a qualidade das recepções/domínios está intimamente ligada à qualidade dos passes realizados, algo que sem dúvidas não foi ponto de destaque na temporada avense. Também relacionada às próprias características físicas dos jogadores, Welinton tem uma média de 1,5 posses de bola perdidas por jogo. Quase o dobro de Jackson, que perde em média 0,8 e bem mais do que Vaz Tê, que raramente perde a bola e tem a média irrisória de 0,2 possessões perdidas.
Por fim, a própria questão das finalizações pode ser também um fator negativo. Se por um lado, é positivo que o jogador consiga tantas finalizações, especialmente em uma formação pouco criativa como a do Desportivo das Aves, seria loucura imaginar que todas essas finalizações tenham sido a decisão certa a ser tomada. Numa equipe em que, esperamos, tenha muito mais qualidade, é esperado do jogador que tenha mais critério no momento de definição.
Conclusões
Em resposta ao questionamento do título do artigo, podemos concluir que o Portimonense ganha situações interessantes com a chegada de Welinton Júnior. Com características bem distintas do atual plantel, parece que o Portimonense conseguiu, enfim, uma alternativa em termos de velocidade e mobilidade bem mais segura que os jovens Beto e Mimi, que pouco conseguiram produzir na temporada. Aos 27 anos, o brasileiro chega em Portimão como um jogador completamente formado e em busca de concretizar seu valor já demonstrado na própria Liga, ao contrário de soluções anteriores que sofreram demasiado com problemas de adaptação, casos por exemplo de Iury e Nishimura. É, a meu ver, um reforço bastante positivo.
De toda forma, para aqueles que gostam de tomar suas próprias conclusões, ficam aqui os melhores momentos de todas as partidas em que o Welinton marcou ou assistiu pelo Aves, com exceção do duelo pela Taça da Liga contra o Gil Vicente: